Numa
cidade pequena, a véspera de Natal trazia consigo um misto de alegria e
consumismo. As lojas estavam repletas de pessoas, as vitrinas decoradas
com presentes brilhantes e árvores de Natal exuberantes. Enquanto a
cidade se enchia de luzes e risos, um garoto de rua, chamado Lúcio,
caminhava pelas calçadas, observando tudo com um olhar distante.
Ele
tinha apenas doze anos e, desde muito pequeno, aprendera a sobreviver
nas ruas. A vida não lhe oferecera muitas opções; a família se desfez e
ele se viu sozinho, enfrentando a frieza do asfalto e a indiferença de
quem passava. No entanto, o espírito do Natal ainda conseguia penetrar
em seu coração, mesmo que de forma tímida.
Naquela
tarde, enquanto caminhava pela rua principal, Lúcio parou em frente a
uma loja de brinquedos. A vitrine estava repleta de jogos, bonecas e
carrinhos, todos brilhando sob a luz artificial. Ele se lembrou de
quando era pequeno e sonhava em ter um carrinho de controle remoto, um
presente que nunca pôde ter. Observando as crianças rindo e escolhendo
presentes, sentiu uma pontada de tristeza, mas também um fio de
esperança.
Enquanto
pensava nisso, um grupo de crianças ricas passou perto dele, rindo e
falando sobre suas expectativas para o Natal. Lúcio tentou não ouvir,
mas as palavras chegaram até ele como um eco distante. "Eu quero uma
bicicleta!", disse uma menina. "Eu quero o último modelo do console!",
gritou outro. Ele apenas suspirou, lembrando-se de que, para ele, o
Natal era apenas mais um dia, a não ser pelo cheiro de comida que
emanava das casas.
Decidido
a não se deixar abater, se afastou da loja e caminhou até a praça
central, onde um grande pinheiro estava enfeitado. As luzes piscavam, e
havia um ar de celebração no ar. Ele se sentou em um banco, observando
as pessoas que passavam, algumas com sacolas cheias de presentes, outras
abraçando seus entes queridos. O menino se sentiu um intruso, mas algo
dentro dele não queria sair dali. Queria, pelo menos, sentir um pouco da
magia do Natal.
Enquanto
estava ali, uma mulher idosa se aproximou. Ela carregava um grande saco
de presentes e parecia estar em busca de algo. Ao vê-lo sentado
sozinho, parou e sorriu.
— Olá, meu jovem! — disse ela com uma voz suave. — O que faz aqui sozinho na véspera de Natal?
Lúcio hesitou, mas a bondade daquela mulher o encorajou a falar.
— Eu só estou... olhando — respondeu ele, tentando esconder a tristeza.
A mulher percebeu a sinceridade e a tristeza em seus olhos. Com um gesto gentil, ela se sentou ao seu lado.
—
Sabe, querido, o Natal é uma época de compartilhar. Você não gostaria
de ter um presente? — perguntou, com um brilho nos olhos.
Lúcio
ficou surpreso. Para ele, a ideia de ganhar um presente parecia um
sonho distante. A mulher, percebendo sua hesitação, continuou.
— Todos merecem um pouco de alegria nesta época. Venha, vamos encontrar algo para você.
Ela
se levantou e puxou Lúcio, que, após um momento de dúvida, a seguiu.
Juntos, eles foram até uma pequena barraca que vendia doces e lanches. A
mulher comprou um pacote de bolachas e um suco para o garoto.
— Aqui, isso é para você! — disse ela, com um sorriso caloroso.
Lúcio
agarrou o pacote, os olhos brilhando de gratidão. Nunca pensou que
alguém faria algo tão gentil por ele. Enquanto comia, a mulher começou a
contar histórias sobre seus Natais passados, sobre a importância da
generosidade e do amor. Ele ouvia atentamente, sentindo-se acolhido por
aquelas palavras.
Após um tempo, a mulher olhou para ele e disse:
—
Você sabe, meu querido, o Natal é mais do que presentes. É sobre estar
junto, sobre compartilhar momentos e espalhar amor. Você tem alguém com
quem passar o Natal?
Lúcio balançou a cabeça, sentindo a solidão pesar sobre ele. A mulher sorriu com tristeza, mas logo teve uma ideia.
— Que tal você passar o Natal comigo e minha família? Nós sempre temos um lugar à mesa para alguém que precisa de companhia.
Lúcio
ficou sem palavras. Aquela oferta era um presente que jamais esperava
ganhar. Ele nunca imaginou que poderia ter um Natal com uma família. O
coração dele se encheu de esperança e alegria.
Naquela
noite, Lúcio foi para a casa da mulher. Ele se encontrou cercado por
uma família calorosa, onde as risadas e as histórias fluíam. A mesa
estava cheia de comida deliciosa, e ele se sentiu parte de algo muito
maior do que ele mesmo.
Os
presentes foram trocados, mas o que mais tocou Lúcio foi a sensação de
fazer parte de algo. Ele percebeu que, mesmo na solidão, havia
esperança. O amor e a generosidade daquela mulher mudaram seu Natal para
sempre.
Ao
final da noite, Lúcio olhou para o céu estrelado e fez um pedido
silencioso: que aquele espírito de amor e união pudesse acompanhá-lo não
apenas no Natal, mas em todos os dias de sua vida. E, pela primeira vez
em muito tempo, ele sentiu que não estava sozinho. O Natal, para ele,
havia se transformado em um símbolo de renovação e esperança.
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José Feldman escreve por Campo Mourão/PR
Fontes
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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