Texto construído tendo por base a trova de José Lucas de Barros (Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN)
Viram cinza os verdes braços
de árvores tão bem formadas
e a terra morre aos pedaços
por onde vão as queimadas!
Na
pequena cidade de Verdeluz, onde a natureza sempre foi a protagonista, o
verde das árvores e o canto dos pássaros formavam uma sinfonia que
encantava a todos. As colinas eram cobertas por florestas densas, e os
rios serpenteavam alegremente, trazendo vida e frescor ao ambiente. No
entanto, nos últimos anos, algo sombrio começou a se espalhar por
aquelas terras outrora vibrantes.
Os
moradores de Verdeluz, sempre em harmonia com a natureza, notaram que
as árvores, antes exuberantes e saudáveis, começaram a perder seu
brilho. “Viram cinza os verdes braços de árvores tão bem formadas”,
murmuravam os mais velhos, enquanto as crianças, sem entender a
profundidade da tristeza, brincavam entre os troncos que começavam a se
tornar estéreis. A terra, que um dia parecia pulsar com vida, agora
mostrava sinais de cansaço e desespero.
O
responsável por essa transformação drástica era a prática das
queimadas. A busca desenfreada por terras para cultivo e pastagem levou
muitos a incendiar áreas florestais, sem considerar as consequências. As
chamas consumiam tudo em seu caminho, deixando atrás de si uma paisagem
desoladora, uma cicatriz permanente na terra que nutria a vida.
“A
terra morre aos pedaços por onde vão as queimadas”, pensava Ana, uma
jovem ativista local que sempre se preocupou com o meio ambiente.
Ana
cresceu em Verdeluz e tinha uma conexão profunda com a natureza. Desde
criança, costumava passar horas explorando as florestas, aprendendo
sobre plantas e animais, e sonhando em um dia se tornar uma defensora da
Terra. Ao ver a devastação ao seu redor, ela sentiu que precisava agir.
Com o apoio de alguns amigos, decidiu organizar uma campanha de
conscientização sobre a preservação da floresta.
Com
cartazes coloridos, encontros comunitários e palestras, Ana e seu grupo
começaram a mobilizar a população. Eles contavam histórias sobre a
importância das árvores, não apenas como provedores de madeira e sombra,
mas como guardiãs de um ecossistema que sustentava a vida. A cada
reunião, mais pessoas se juntavam à causa, unindo forças para tentar
reverter o cenário trágico.
Certa
tarde, enquanto caminhava pela floresta, Ana encontrou um velho sábio,
conhecido por todos como o Guardião da Floresta. Ele estava sentado sob
uma árvore imponente, cujos galhos pareciam tocar o céu.
“Você trouxe um peso grande em seu coração, minha jovem”, ele disse, olhando nos olhos dela.
Ana
se sentou ao seu lado e desabafou sobre suas preocupações. “Sinto que
estamos perdendo nossa casa. As queimadas estão destruindo tudo e
ninguém parece se importar.”
O velho sorriu, mas havia tristeza em seu olhar.
“A
natureza sempre encontrará uma forma de se regenerar, mas precisamos
cuidar dela com amor e respeito. As árvores têm uma sabedoria que muitas
vezes ignoramos”, respondeu ele. “Viram cinza os verdes braços, mas se
você reacender a esperança, pode fazer com que voltem a florescer.”
Inspirada
pelas palavras do Guardião, Ana decidiu que era hora de agir de forma
mais intensa. Com a ajuda da comunidade, organizaram um grande evento: o
Festival da Reflorestação. Seria um dia de celebração, conscientização
e, principalmente, plantio de árvores. O evento atraiu a atenção de
muitos, e pessoas de várias partes da cidade se uniram à causa.
No
dia do festival, a atmosfera era mágica. Músicos tocavam, crianças
corriam com sorrisos iluminados, e os adultos se preparavam para plantar
novas árvores. Ana sentiu que a esperança estava renascendo naquelas
pequenas mãos que seguravam mudas de árvores. Ela viu ali uma nova
geração disposta a lutar pelo que é certo.
Com
cada árvore plantada, Ana sentiu que a conexão com a terra se
fortalecia. As raízes que se entranhavam na terra eram como promessas de
um futuro mais verde. “Juntos, podemos mudar o curso da história”, ela
dizia para todos os que se reuniam ao seu redor. “Cada árvore que
plantamos é um passo em direção à cura da nossa terra.”
Os
meses se passaram, e o que começou como um pequeno movimento cresceu.
As árvores plantadas começaram a brotar, e a vida retornou lentamente às
áreas que haviam sido devastadas. As pessoas começaram a perceber a
importância de cuidar da natureza, e a consciência coletiva despertou
para a necessidade de preservar o que restava.
Certa
manhã, ao acordar e olhar pela janela, Ana viu que a floresta estava
mais vibrante do que nunca. As árvores, que antes pareciam tristes e
cinzentas, agora exibiam uma nova folhagem, como se dançassem ao vento,
agradecendo por terem sido resgatadas.
“A terra não morre, ela se transforma”, pensou Ana, sentindo uma onda de gratidão.
O Guardião da Floresta apareceu novamente, e Ana correu até ele.
“Olhe para o que conseguimos fazer!”, exclamou, cheia de alegria.
O
velho sorriu, seus olhos brilhando. “Vocês reacenderam a luz que havia
se apagado. Mas lembre-se, a luta é contínua. A proteção da natureza é
uma jornada, não um destino.”
E
assim, em Verdeluz, a luta pela preservação se tornou uma parte da vida
cotidiana. As queimadas diminuíram, e a floresta começou a se
recuperar. A comunidade aprendeu que a beleza da natureza não é apenas
um presente, mas uma responsabilidade. Pois onde a sombra cobre e
embaça, ainda há esperança, e cada gesto de cuidado pode reacender a luz
que ilumina a vida da Terra.
Fontes
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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