Nota: A ideia deste texto fictício partiu de uma conversa com um amigo escritor, de Monteiro Lobato/SP, Paulo Vieira Pinheiro (Paulo Vinheiro), daí só foi dar asas à imaginação.
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Era
uma manhã tranquila no sítio de Paulo, um homem de setenta anos que,
após uma vida inteira de trabalho duro, finalmente havia encontrado um
pouco de paz. O sol começava a despontar no horizonte, pintando o céu
com tons de laranja e rosa. Ele se espreguiçou, sentindo a brisa fresca
que entrava pela janela do seu quarto. A casa, rodeada por árvores
frutíferas e o canto dos pássaros, parecia um santuário.
Sempre
fora um homem curioso. Desde jovem, tinha um amor insaciável pelo
conhecimento. Passava horas na biblioteca, devorando livros sobre
história, ciência e filosofia. Agora, em sua aposentadoria, ele se
dedicava ao cultivo da terra e à leitura, mas sempre havia uma
inquietação dentro dele, um desejo de descobrir mais sobre o mundo e
talvez até sobre si mesmo.
Naquela
manhã, enquanto preparava seu café, olhou pela janela dos fundos e viu
algo que nunca havia notado antes: uma luz suave emanava de um canto do
quintal, perto da velha árvore de figo. Intrigado, ele decidiu
investigar. Calçou suas botas e saiu, atravessando o gramado coberto de
orvalho.
Ao
se aproximar da árvore, a luz se intensificou, e uma sensação estranha
começou a envolver Paulo. Era como se a atmosfera estivesse vibrando,
pulsando com energia. Ele se agachou para examinar melhor e, de repente,
notou uma pequena porta na base da árvore, quase imperceptível. Era uma
porta de madeira antiga, com entalhes que pareciam contar histórias de
tempos passados.
Com
o coração acelerado, sentiu que aquele momento era especial. Ele
estendeu a mão e abriu a porta. Ao cruzar a soleira, foi envolvido por
uma luz brilhante e, em um instante, se viu em um lugar completamente
diferente.
O
que antes era o seu quintal agora se transformara em uma floresta
mágica, cheia de árvores altíssimas e plantas que nunca havia visto. O
céu era de um azul profundo, e nuvens flutuavam com formas curiosas.
Sons melodiosos preenchiam o ar, vindos de criaturas que pareciam mais
lendárias do que reais.
Paulo
ficou atordoado, mas não sentiu medo. Ao contrário, sentiu uma onda de
curiosidade percorrendo seu corpo. Ele começou a andar, admirando a
beleza ao seu redor. As árvores sussurravam segredos, e o vento parecia
guiá-lo. A cada passo, ele se sentia mais conectado a esse novo mundo.
Depois
de caminhar por um tempo, encontrou um pequeno grupo de seres que
pareciam humanos, mas com características etéreas. Seus olhos brilhavam
com sabedoria, e suas vozes eram suaves como a brisa. Eles se
apresentaram como os Sábios da Floresta, guardiões do conhecimento e da
harmonia.
— Você veio em busca de algo, não é verdade? — perguntou um deles, com um sorriso gentil.
Paulo
assentiu, sentindo-se á vontade. Ele explicou seu desejo de aprender,
de entender mais sobre a vida e sobre si mesmo. Os Sábios trocaram
olhares significativos e, em seguida, começaram a compartilhar com ele
os segredos da natureza, da história do mundo e da essência do ser
humano.
Os
dias passaram como horas, e Paulo mergulhou em um universo de
aprendizado. Ele aprendeu sobre as plantas que curam, sobre os ciclos da
vida e da morte, e sobre a importância da conexão entre todos os seres.
Os Sábios o ensinaram que o conhecimento não é apenas o que se lê em
livros, mas também o que se vive, o que se sente.
Uma tarde, enquanto descansavam sob uma árvore centenária, um dos Sábios disse a Paulo:
—
O conhecimento é uma jornada, não um destino. Cada experiência, cada
amizade, cada dor, é uma peça do quebra-cabeça que compõe quem somos.
Paulo
ouviu com atenção. Aquela frase ressoou dentro dele, como um eco de
verdades que sempre soubera, mas nunca tivera a coragem de aceitar
plenamente.
Após
o que pareceu uma eternidade, percebeu que era hora de voltar. Ele
havia adquirido sabedoria, mas também sentia saudade de sua vida no
sítio, das pequenas coisas que o faziam feliz.
Os Sábios o acompanharam até a porta da árvore.
—
Lembre-se, Paulo — disse uma sábia com olhos brilhantes —, você pode
levar o conhecimento consigo. Mas nunca se esqueça de que a verdadeira
sabedoria é vivida no dia a dia. Não tema as perguntas, pois elas são o
caminho para novas descobertas.
Com
um último olhar para aquele mundo mágico, Paulo atravessou a porta e
retornou ao seu quintal. O sol ainda brilhava, mas algo havia mudado
dentro dele. Ele olhou ao redor, sentindo a familiaridade do lugar, mas
agora com uma nova perspectiva.
Nos
dias que se seguiram, começou a aplicar o que aprendera. Ele passou a
observar mais a natureza ao seu redor, a cuidar das plantas com um
carinho renovado. Suas conversas com vizinhos e amigos tornaram-se mais
significativas, e ele se interessou em compartilhar suas experiências.
Também
começou a escrever um diário, registrando não apenas suas descobertas,
mas as reflexões que surgiam de cada dia. Ele percebeu que o
conhecimento não era algo que se acumulava em livros, mas uma vivência
que se compartilhava.
Aquele
homem de setenta anos, que um dia se sentiu perdido em meio às rotinas
do dia a dia, agora caminhava com um brilho novo nos olhos. A soleira da
árvore, que o levara a uma dimensão desconhecida, também o guiara a uma
nova compreensão de si mesmo e do mundo.
Paulo
sabia que, embora a vida fosse finita, a busca pelo conhecimento e pela
conexão com o outro era eterna. E assim, ele viveu seus dias com a alma
leve, coração aberto e mente curiosa, sempre pronto para aprender mais.
Fontes
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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