quarta-feira, 12 de março de 2025

A pimenta da discórdia

 
Era uma tarde chuvosa na pequena casa de Dona Elza. Ela estava na cozinha, concentrada em preparar seu famoso ensopado. Com um avental florido e uma colher de pau na mão, ela mexia os ingredientes quando seu marido, Seu Manoel, entrou com um olhar curioso.
 
— O que você está fazendo, minha querida? — perguntou Manoel, coçando a cabeça.
 
— Estou fazendo ensopado, Mané. Você sabe, o seu favorito! — respondeu Elza, sorrindo.
 
— Ah, sim! E eu posso ajudar? — ele disse, já se aproximando da mesa de temperos.
 
— Claro, amor! Só não mexa nos potes, por favor — advertiu ela, lembrando-se de algumas tentativas anteriores.
 
Manoel começou a olhar e mexer nos potes, mas logo se deparou com um dilema.
 
— E a pimenta? Onde está? Você já colocou?
 
— Coloquei sim! — disse Elza, sem muita certeza.
 
— Tem certeza? O que você acha que é essa cor aqui? — apontou ele para o ensopado.
 
— Mané, isso é o colorau! — ela riu, balançando a cabeça. — Você ainda lembra o que é pimenta?
 
— Ah, estou certo de que não colocou... — ele murmurou.
 
— Então, vamos colocar mais um pouco, só para garantir! — decidiu Elza, pegando o frasco de pimenta.
 
— Espera! — Manoel gritou. — E se já tiver? E se ficarmos com a boca em chamas?
 
— Mané, você está exagerando! A comida não vai explodir! — ela riu, já despejando uma boa quantidade.
 
— Ok, ok! Mas se eu não conseguir sentir o gosto depois, a culpa é sua! — ele retrucou, cruzando os braços.
 
Após o tempero, Dona Elza serviu o ensopado fumegante em dois pratos. Ambos se sentaram à mesa, ansiosos para experimentar a refeição.
 
— Vamos lá! — disse ela, pegando a colher. — Um brinde ao nosso jantar!
 
— Ao nosso jantar! — replicou Manoel, levantando o garfo.
 
Os dois deram a primeira colherada ao mesmo tempo. O silêncio pairou por um momento, até que Manoel começou a chorar.
 
— O que foi, Mané? Está tudo bem? — perguntou, preocupada.
 
— Eu... estou... — ele tentou falar, mas as lágrimas escorriam. — Está muito forte! Parece que coloquei fogo na boca!
 
— O que você esperava? — disse ela, tentando conter o riso. — Você mesmo insistiu que não sabia se a pimenta já estava lá!
 
— Agora eu sei! — ele respondeu, fazendo caretas. — Eu não vou conseguir comer isso!
 
— Que bom que você decidiu ajudar! — Elza brincou, servindo-se de um copo de água. — Deixa que eu cuido do jantar da próxima vez.
 
Manoel, ainda ofegante, sorriu e levantou o copo.
 
— Então, um brinde à pimenta esquecida e ao nosso amor!
 
— E que nunca mais esqueçamos onde a pimenta está! — Elza completou, rindo.

 
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

terça-feira, 11 de março de 2025

Um dia... um tanto bagunçado na praia

Era uma manhã com um sol vibrante no céu, quando Aparecido e Lindolfo decidiram ir à praia na Vila das Velhas. Enquanto Aparecido carregava uma expressão de desânimo, Lindolfo pulava de entusiasmo, quase derrubando a bolsa de praia.


— Olha, Aparecido! Hoje vai ser um dia incrível! — disse Lindolfo, animado.

— Incrível até você fazer alguma besteira, como sempre — resmungou Aparecido.

Chegando à praia, o primeiro desafio foi montar o guarda-sol. Lindolfo, com seu jeito atrapalhado, logo começou a lutar com a estrutura.

— Deixe que eu ajudo, Lindolfo! — Aparecido disse, tentando consertar o guarda-sol.

— Não precisa, eu sou um mestre em guarda-sóis! — respondeu Lindolfo, confiante.

Assim que Aparecido segurou o guarda-sol, um vento forte soprou e, com violência, o guarda-sol voou das mãos deles.

— Ah, não! — gritou Aparecido. 

Mas era tarde demais. O guarda-sol saiu deslizando e colidiu com uma tenda onde várias pessoas faziam ioga.

— O que foi isso?! — gritou uma instrutora, enquanto algumas pessoas caíam de costas, outras rolavam e batiam em uma barraca de bebidas.

— Ai, meu Deus! — exclamou Lindolfo, tentando ajudar, mas acabou tropeçando em um tapete de ioga. Ele caiu, e junto com ele, um grupo inteiro de praticantes de ioga desmoronou.

— Olha o que você fez! — Aparecido gritou.

As bebidas ficaram espalhadas pela areia, encharcando várias pessoas que estavam em suas esteiras.

— Essa é a melhor aula de ioga que já fiz! — alguém comentou, rindo, enquanto tentava se levantar.

Lindolfo, ainda tentando se recuperar da queda, disse:

— Vamos para o mar! O banho vai nos refrescar!

Os dois correram em direção à água, mas, ao chegarem à beira, perceberam que a areia estava escaldante.

— Ai, ai! Como está quente! — reclamou Aparecido, pulando de um pé para o outro.

— Pula como um saci, Aparecido! — brincou Lindolfo, que estava pulando de forma desengonçada.

Ao fazer um salto, Lindolfo, em sua típica falta de coordenação, acabou tropeçando em um cachorro que passava.

— Cuidado! — Aparecido gritou, mas já era tarde. Lindolfo caiu na areia, derrubando Aparecido junto, que foi parar de cara na água.

— Eu sabia que você ia fazer alguma besteira! — resmungou Aparecido, com a cara encharcada e enlameada.

— Foi só um pequeno acidente! — defendeu-se Lindolfo, rindo enquanto tentava se levantar.

No entanto, ao se levantar, Lindolfo escorregou na areia molhada e caiu novamente, agora em cima de Aparecido.

— Você está me afundando! — gritou Aparecido, tentando empurrá-lo.

— Desculpa! É tudo culpa do cachorro! — disse Lindolfo, se agitando descontroladamente.

Depois de muitas trapalhadas, finalmente conseguiram se limpar e foram para a água. O mar estava delicioso, e Aparecido até começou a relaxar um pouco.

— Olha, Aparecido! Estamos nos divertindo, não estamos? — disse Lindolfo, mergulhando.

— Se você não parar de fazer besteira, talvez sim! — Aparecido respondeu, tentando manter a calma.

Depois de um tempo, eles decidiram voltar para a areia. Mas, ao chegarem, perceberam que a confusão ainda não havia acabado. A tenda de ioga estava cheia de pessoas tentando se secar e algumas ainda confusas com a situação.

— Eles parecem estar se divertindo com o "aula de ioga aquática" — Aparecido comentou, tentando não rir.

— Olha, quem sabe isso não vira uma nova tendência? — sugeriu Lindolfo, piscando o olho.

— Tendência ou não, eu só quero um pouco de tranquilidade! — Aparecido resmungou.

Quando finalmente se prepararam para ir embora, Aparecido estava ainda mais irritado com as trapalhadas de Lindolfo.

— Você sempre arruma confusão, não é? — Aparecido reclamou.

— Mas pelo menos é divertido! — respondeu Lindolfo, rindo.

— Divertido para você! Eu acabei de passar por uma "experiência de areia" — Aparecido disse, enquanto se sacudia.

— Vamos fazer disso uma tradição! — sugeriu Lindolfo, enquanto caminhavam para o carro.

— Tradicionalmente, eu prefiro um dia tranquilo em casa — Aparecido resmungou, mas não pôde evitar um sorriso ao olhar para o amigo.

E assim, entre risadas e trapalhadas, os dois amigos foram embora da praia, mesmo que Aparecido ainda achasse que a próxima saída deveria ser para um lugar bem longe de qualquer guarda-sol.

Depois de um dia cheio de trapalhadas na praia, Aparecido chegou em casa ainda resmungando sobre as aventuras de Lindolfo. Enquanto se aprontava para tomar um banho, Lindolfo, entusiasmado, começou a mexer no celular.

— Olha, Aparecido! As fotos da praia estão incríveis! — disse Lindolfo, piscando para o amigo.

Aparecido saiu do banheiro, com a toalha na cabeça, e olhou para o telefone.

— Fotos? De que fotos você está falando? — perguntou, já prevendo mais confusões.

— Das nossas aventuras! — respondeu Lindolfo, passando rapidamente pelas imagens. — Olha essa aqui: você caindo de cara na areia!

Aparecido se aproximou, e a imagem era realmente hilária. Ele estava com um olhar de espanto, coberto de areia, e Lindolfo, ao lado, rindo descontroladamente.

— Isso é ridículo! — Aparecido exclamou. — Eu pareço um polvo!

— E essa aqui? — continuou Lindolfo, mostrando outra foto. — Olha a cara de quem estava "mergulhando" na água, com areia na cara!

Aparecido olhou para a foto e teve que admitir que, embora fosse constrangedor, era engraçado.

— Tudo bem, essa é engraçada. Mas e a parte em que você derrubou todo mundo na tenda de ioga?

Lindolfo começou a rolar as imagens e, em seguida, apareceu uma foto com várias pessoas deitadas na areia tentando se levantar.

— Olha, — disse Lindolfo. — você não pode negar que foi uma grande aventura!

— Grande aventura? Você quer dizer "grande desastre"! — Aparecido rebateu, mas com um sorriso involuntário.

Lindolfo finalmente encontrou uma foto que o fez rir ainda mais. Era uma selfie deles, com Aparecido de cara emburrada e Lindolfo com um sorriso enorme, coberto de areia.

— Essa é a melhor! — disse Lindolfo. — "Aparecido, o campeão da praia e eu, seu fiel escudeiro!"

— Fiel escudeiro? Você quer dizer "criador de problemas"! — Aparecido respondeu, mas já não continha as risadas.

— Vamos postar no grupo! — sugeriu Lindolfo, já pronto para compartilhar.

— Não! — Aparecido gritou. — Não quero que todos vejam isso!

— Ah, vai! Todos vão adorar! É um momento especial! — insistiu Lindolfo.

— "Especial"? Se você acha que eu quero ser conhecido como o cara que caiu na areia e foi atingido por um guarda-sol, você está muito enganado! — Aparecido retrucou.

— Mas é isso que faz a vida divertida! — disse Lindolfo, finalmente convencendo Aparecido a deixar ele postar as fotos.

Assim que Lindolfo publicou as imagens, rapidamente começaram a chegar comentários dos amigos.

— "Aparecido, você é um artista da areia!" — comentou um amigo.

— "O que aconteceu com o guarda-sol?!" — outro perguntou, rindo.

Aparecido olhou para Lindolfo, que estava quase se engasgando de tanto rir.

— Ok, você ganhou essa! — disse Aparecido, rendendo-se à situação. — Mas não quero mais aventuras como essa!

— Prometo que na próxima vamos apenas relaxar! — disse Lindolfo, com um sorriso travesso.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

sexta-feira, 7 de março de 2025

Lealdade até o fim

Era uma manhã ensolarada em uma pequena cidade do interior, e o parque estava repleto de vida. Entre as árvores, um homem de meia-idade, Alexandre, caminhava com seu fiel Border Collie, Trovão. Eles eram inseparáveis; o homem havia adotado o cão há cinco anos, e desde então, eles compartilhavam cada momento de suas vidas.

Alexandre trabalhava em uma pequena loja de eletrônicos, e todas as manhãs, ele levava Max para o parque antes de ir ao trabalho. O cão adorava correr atrás das folhas que caíam e brincar com as crianças que passavam. A alegria de Trovão era contagiante, e muitos frequentadores do parque conheciam o cão pelo seu espírito brincalhão.

Com o passar dos anos, a saúde de Alexandre começou a fraquejar. Ele havia sido diagnosticado com uma doença grave, e suas idas ao parque tornaram-se menos frequentes. Max, no entanto, parecia entender que seu amigo precisava de apoio. Ele permanecia ao lado dele, oferecendo conforto e amor incondicional.

Certa manhã, Alexandre decidiu que, apesar de sua condição, iria ao parque mais uma vez. Ele vestiu seu casaco e chamou Trovão. O cão correu até ele, abanando o rabo com entusiasmo. Juntos, caminharam até o parque, onde Alexandre se sentou em um banco, admirando a beleza ao seu redor. Trovão correu ao seu redor, buscando folhas e brincando com quem passava.

No entanto, enquanto o sol começava a se pôr, Alexandre sentiu uma fraqueza repentina. Ele tentou se manter firme, mas a dor tomou conta de seu corpo. Trovão, percebendo a mudança, correu até ele, preocupado. Alexandre sorriu para o cão, tentando transmitir que estava tudo bem, mas em seu coração ele sabia que não era verdade.

Com um último gesto de amor, acariciou a cabeça de Trovão e sussurrou: "Eu sempre estarei com você, amigo." 

Em seguida, ele fechou os olhos, e um silêncio profundo tomou conta do parque. Trovão, ao perceber que algo estava errado, lambeu o rosto de seu dono, tentando acordá-lo. Mas ele não se mexeu mais.

As pessoas que estavam por perto rapidamente chamaram ajuda, mas não havia nada que pudesse ser feito. Alexandre havia partido. Trovão, em choque, ficou ao lado do corpo de seu amigo, relutante em se afastar. O mundo ao seu redor parecia ter perdido a cor.

As horas se passaram, e Trovão não se moveu. Ele ficou ali, ao lado de Alexandre, como se esperasse que ele acordasse a qualquer momento. 

Quando a tarde caía, um sentimento de tristeza profunda tomou conta do cão. Ele começou a uivar, cada som ecoando a dor de sua perda.

Naquela noite, enquanto a lua iluminava o parque, Trovão se deitou ao lado de Alexandre, e seus olhos se fecharam lentamente. O cão, leal até o fim, partiu em busca de seu amigo. A conexão entre os dois era tão forte que, mesmo na morte, parecia que seus espíritos estariam sempre juntos.

A notícia da morte de Alexandre e Trovão se espalhou rapidamente pela comunidade. Todos que conheciam o homem e seu fiel companheiro sentiram a dor da perda. Em um gesto de amor e respeito, os moradores do parque se uniram para homenageá-los. Eles prepararam um local especial onde os dois poderiam descansar juntos.

No dia do sepultamento, as pessoas trouxeram flores e lembranças. O pequeno cemitério no parque tornou-se um lugar de reflexão e amor. 

Alexandre e Trovão foram enterrados lado a lado, com uma placa que dizia: "A lealdade verdadeira nunca morre."

A história de Alexandre e Trovão se tornou uma lenda local, lembrando a todos sobre a profundidade da amizade entre um homem e seu cão. Mesmo após suas mortes, a memória deles continuou a brilhar, inspirando outros a valorizar os laços que formamos em vida e a lealdade que transcende até mesmo a morte.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quinta-feira, 6 de março de 2025

O Tempo e a Amizade

Era uma manhã nublada quando Lúcio, um homem de sessenta anos, decidiu sair para comprar pão. As ruas estavam vazias, e o vento frio soprava suavemente. Enquanto caminhava, algo chamou sua atenção: uma caixa de papelão, abandonada em um canto da calçada. Curioso, ele se aproximou e, ao ver a caixa, sentiu seu coração apertar.

Dentro dela, uma filhote de cachorro, uma mistura de akita e pastor, olhava para ele com olhos grandes e tristes. Seu pelo estava desgrenhado e sujo, e o pequeno corpo tremia de medo. Em um impulso, Lúcio pegou a cadela no colo, sentindo a fragilidade dela. Ele sabia que não podia deixá-la ali.

Envolveu-a em seu casaco. Com a orientação de um veterinário, Lúcio dedicou sua vida a cuidar dela. 

— Você vai se chamar Moira, pequena — sussurrou.

As primeiras noites foram difíceis; ela chorava, lembrando-se do abandono. Mas Lúcio, com paciência, a acalmava, balançando-a em seus braços na velha cadeira de balanço. Ele a alimentava, a banhava e a levava para passear. Em pouco tempo, Moira se tornou uma parte essencial de sua vida.

Os dias passaram, e a conexão entre eles cresceu. Moira se tornou uma cadela forte e saudável, mas sempre mantinha aquele olhar de gratidão. Lúcio, por sua vez, via em Moira uma razão para acordar todos os dias. Eles pareciam se entender de forma especial, como se conversassem em uma linguagem silenciosa, telepática. Moira ficava atenta a cada movimento de Lúcio, e ele sentia sua presença acolhedora, especialmente nos dias em que a saúde não estava em seu melhor estado.

A vida seguiu, e Moira se tornou a guardiã da casa. Sempre que Lúcio saía, ela tremia de ansiedade, lembrando-se do abandono. Mesmo assim, sua lealdade era inquebrantável. Latia para estranhos e se posicionava protetora diante de qualquer ameaça. Ela sabia que Lúcio era seu lar, e o defendia com fervor.

Um dia, enquanto caminhava para o mercado, Lúcio escorregou em uma calçada molhada e caiu. A dor foi intensa, e ele não conseguiu se levantar. Um transeunte chamou uma ambulância, e Lúcio foi levado ao hospital. Moira, em casa, sentiu que algo estava errado. Ela vagava pela casa, ansiosa, procurando por seu amigo. A ausência de Lúcio a deixou deprimida. Sua energia, que antes vibrava, agora era uma sombra triste.

Lúcio, no hospital, desesperado, sussurrava o nome de Moira constantemente, preocupado com ela. A amiga dele, Ana, ao ver que ele ficava muito exaltado, e as condições de saúde pioravam sempre que se preocupava com a cadela, decidiu levar Moira para seu sítio, na esperança de que o ambiente rural a ajudasse a se recuperar e tranquilizasse Lúcio. 

Mas a cadela não se adaptou. Ela se recusava a comer e passava os dias olhando em direção à estrada, esperando ver Lúcio correndo para ele. O vazio em seu coração era palpável, e Ana se preocupava com a saúde da amiga de quatro patas.

Passaram-se semanas. Lúcio, no hospital, lutava para se recuperar, pensando em Moira a cada instante. Ele sabia que ela precisava dele, assim como ele precisava dela. Quando finalmente recebeu alta, um misto de alegria e ansiedade tomou conta dele. Ele mal podia esperar para reencontrá-la.

No dia da sua volta, Lúcio foi até o sítio onde Moira estava. Mesmo com a fraqueza do corpo, seu coração pulsava com a esperança de vê-la novamente. Ao abrir o portão do sítio, um milagre aconteceu. Moira, que estava na casa, sentiu o cheiro familiar de Lúcio mesmo de longe. Suas orelhas se ergueram, e um instinto poderoso a fez levantar-se.

Ela correu pela casa, saltando sobre móveis e superando qualquer obstáculo em seu caminho. Ao alcançar o portão, Moira não hesitou; ela saiu correndo, em direção ao som da voz que ela tanto amava.

Lúcio, ao vê-la se aproximando, sentiu seu coração acelerar. Quando os dois se encontraram, o mundo ao redor desapareceu. Moira pulou em volta dele, abanando o rabo como se dissesse: “Você voltou! Eu sabia que voltaria!” Lúcio se agachou, segurando Moira em seus braços, chorando de felicidade.

As pessoas que acompanhavam a cena se emocionaram. Era um momento de pura alegria e amor incondicional. Lúcio e Moira, finalmente reunidos, eram a definição de felicidade. Ele a abraçava com força, e ela lambeu seu rosto, como se quisesse dizer que nunca a abandonaria novamente.

A relação deles, marcada por amor, dor e resiliência, agora era mais forte do que nunca. Lúcio sabia que, não importava o que acontecesse, Moira sempre estaria ao seu lado, e ele, por sua vez, seria o protetor que ela sempre mereceu. 

Naquela tarde ensolarada, enquanto o sol se punha no horizonte, Lúcio e Moira estavam juntos, e o amor que compartilhavam era uma luz que iluminava até os cantos mais escuros de suas almas. Eles tinham encontrado um no outro não apenas um lar, mas uma verdadeira família.

Os anos passaram como folhas levadas pelo vento, e Lúcio e Moira viveram juntos uma vida cheia de amor e cumplicidade. Cada dia que se passava era uma nova oportunidade para aprofundar a conexão que tinham construído. No entanto, o tempo, implacável, começou a deixar suas marcas.

Lúcio, agora com setenta e oito anos, sentia o peso dos anos em suas articulações. As caminhadas que antes eram longas e revigorantes agora se tornaram mais curtas e cuidadosas. Moira, que havia crescido e se tornado uma cadela majestosa, também estava envelhecendo. Seus pelos, antes brilhantes e espessos, agora tinham manchas brancas, e seus movimentos se tornaram mais lentos. Mas seus olhos ainda brilhavam com amor e sabedoria, sempre atentos ao seu querido humano.

Com o passar do tempo, o cuidado que Lúcio dedicava a Moira se inverteu em algumas ocasiões. Havia dias em que ele precisava de ajuda, e era ela quem ficava ao seu lado, como uma guardiã fiel. Moira, mesmo com sua idade avançada, se esforçava para acompanhar Lúcio, sempre atenta às suas necessidades. Ela o observava com um olhar que parecia entender cada suspiro, cada movimento lento.

Em uma manhã de outono, enquanto as folhas caíam suavemente, Lúcio sentiu uma dor aguda no peito. Ele hesitou, mas não queria preocupar Moira. "Só um pouco de cansaço", pensou. Entretanto, a cadela percebeu que algo estava errado. Com um olhar preocupado, ela não se afastou de Lúcio, seguindo-o de perto enquanto ele tentava realizar suas tarefas diárias.

Com o tempo, as idas ao veterinário tornaram-se mais frequentes para ambos. Moira, que sempre fora cheia de vida, agora apresentava dificuldades nas articulações. Lúcio, por sua vez, começou a enfrentar problemas de saúde mais sérios. 

Certa noite, após uma visita ao médico, ele sentiu-se particularmente abatido. Ao se sentar na cadeira de balanço, Moira se aproximou, colocando a cabeça em seu colo, como se dissesse: “Estou aqui para você.”

Esses momentos, embora difíceis, reforçavam o laço indestrutível que compartilhavam. Lúcio acariciava o pelo macio de Moira, lembrando-se dos dias em que ela era apenas um filhote. O amor que eles tinham um pelo outro era uma força que os mantinha vivos, mesmo nos dias mais sombrios.

Com o passar dos meses, Moira começou a apresentar sinais de fraqueza. Ela já não corria como antes e passava mais tempo deitada ao lado de Lúcio. Ele sentia a tristeza se instalar em seu coração, mas tentava ser forte. A cada dia, ele sabia que o tempo estava se esgotando.

Em uma tarde ensolarada, Lúcio decidiu levar Moira para um passeio no parque, um dos lugares que sempre amaram juntos. Ele a conduziu gentilmente, e ela caminhou devagar, cheirando as flores e observando os pássaros. Era um momento de pura alegria, mesmo que a fragilidade de ambos fosse palpável.

Numa manhã, Lúcio acordou e sentiu que algo estava diferente. Moira estava deitada em seu canto, parecendo mais cansada do que o habitual. Ele se aproximou e acariciou seu pelo, sentindo o calor da sua amiga, mas também a fraqueza que a acometia. Moira levantou a cabeça e olhou para ele com aqueles olhos que sempre transmitiram tanto amor. Era como se ela quisesse garantir que Lúcio soubesse o quanto ele era importante para ela.

Naquela noite, enquanto Lúcio se acomodava em sua cadeira de balanço, Moira se aninhou em seus pés. Ele a puxou para mais perto, envolvendo-a com um cobertor. Eles permaneceram assim, em silêncio, sentindo o calor um do outro, como sempre fizeram.

Na manhã seguinte, o sol se levantou, mas a casa estava silenciosa. Lúcio despertou e percebeu que Moira não estava mais ao seu lado. Seu coração se apertou. Ele a encontrou deitada no seu lugar favorito, tranquila, como se tivesse adormecido em paz. As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele a segurava em seus braços, lembrando-se de cada momento que compartilharam.

Lúcio sabia que a vida continuava, mesmo sem Moira. Ele a enterrou no pequeno quintal, sob a sombra de uma árvore que plantaram juntos anos atrás. Com cada pá de terra que lançava sobre sua amada cadela, ele se lembrava do amor incondicional que ela lhe deu.

Os dias seguintes foram difíceis, mas Lúcio encontrou consolo nas memórias. Ele continuou a caminhar pelo parque, agora sozinho, mas sempre sentindo a presença de Moira ao seu lado. A conexão que tinham transcendia a vida e a morte; era um amor que permaneceria com ele para sempre.

E assim, enquanto o sol se punha no horizonte, Lúcio sorriu, sabendo que, mesmo após a perda, o amor que compartilhara com Moira ainda iluminava seu caminho. Ele entendia que a verdadeira amizade nunca acaba; ela se transforma, continua a viver nas memórias e nas ações de quem fica.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

segunda-feira, 3 de março de 2025

Cartas ao Vento

Na pequena cidade de Moema, o carnaval se aproximava, trazendo consigo um ar de alegria e festividade. As ruas estavam decoradas com luzes coloridas. No entanto, para Marcelo, um idoso de setenta e um anos, a época era um lembrete doloroso da solidão que o cercava.

Marcelo vivia sozinho em uma casa antiga, repleta de memórias de uma vida que um dia fora cheia de amor e risos. Seu irmão, Carlos, sempre foi seu companheiro mais próximo, mas, após a morte da esposa de Carlos, ele não conseguia mais visitar o irmão como antes. As cartas que trocavam tornaram-se raras, e a distância física se transformou em um abismo emocional.

A única companhia de Marcelo era sua cachorrinha, Aurora, uma golden retriever de olhos ternos e pelagem dourada que refletia a luz do sol. Aurora sempre estivera ao lado de Marcelo, oferecendo amor incondicional e conforto em seus momentos de tristeza. Ela parecia entender os sentimentos de seu dono, como se soubesse que ele lutava contra a solidão.

No sábado de carnaval, Marcelo decidiu que precisava se expressar. Sentou-se à mesa, com uma folha de papel em branco diante dele, e começou a escrever uma carta para Carlos.

“Querido Carlos,” começou ele, “mais um Carnaval chegou e, novamente, sinto a sua falta. Lembro-me de todos os carnavais que passamos juntos, das risadas, das histórias, e da alegria de estarmos juntos. Sinto que o tempo nos afastou, e a solidão me aperta o coração...”

Enquanto escrevia, lágrimas começaram a escorregar por seu rosto, caindo sobre o papel. Aurora, que estava deitada a seus pés, levantou a cabeça e olhou para ele com preocupação. Marcelo parou de escrever e a acariciou, sentindo o calor reconfortante do corpo da cadela. 

— Sabe, Aurora, eu me sinto tão sozinho. — confessou com a voz embargada. — Às vezes, sinto que ninguém se importa mais comigo. 

Aurora se aproximou, esfregando o focinho em sua mão, tentando consolar seu amigo. O olhar de Marcelo encontrou os olhos sinceros dela, e ele sorriu através das lágrimas.

— Você é a única que ainda me entende. — disse ele. — Você é minha melhor amiga.

Naquela noite, Marcelo terminou a carta e decidiu não enviá-la. Em vez disso, guardou-a em uma caixa de sapatos que continha outras cartas e recordações. Ele se sentou no sofá, com a cadela ao seu lado, e assistiram à televisão, enquanto a cidade ao redor festejava. O som dos risos e das músicas penetrava as paredes da casa, mas dentro dela, apenas o silêncio e a tristeza reinavam.

O Carnaval chegou, e Marcelo acordou com uma sensação de vazio. Ele preparou um café simples e sentou-se à mesa, onde havia um único prato. Olhou para Aurora, que estava ao seu lado, e disse:

— Vamos ter um Natal só nós dois, não é, querida? 

Ela colocou a cabeça em seu colo e olhou para ele com amor. A presença dela era um alívio, mas a ausência de seu irmão e de sua família fazia seu coração doer. Enquanto os vizinhos se divertiam com suas famílias, Marcelo sentia o peso da solidão. 

Na tarde daquele dia, ele decidiu escrever mais uma carta, desta vez para Aurora. Com um sorriso triste nos lábios, começou:

“Querida Aurora, você é minha única companheira. Mesmo quando o mundo parece tão escuro e solitário, você sempre está aqui, ao meu lado. Seu amor me dá força, e eu agradeço a Deus por você. Nunca se esqueça de que, mesmo em meio à tristeza, eu te amo mais do que palavras podem expressar.”

Ela se aproximou e lambeu seu rosto, como se estivesse respondendo. Marcelo riu, mas logo as lágrimas voltaram a brotar. Ele abraçou a cachorrinha, sentindo seu calor e o conforto que ela proporcionava. 

— Às vezes, eu só queria entender por que as pessoas se afastam. — murmurou. — Não é justo, Aurora... Não é justo.

A tarde se arrastava, e o ambiente festivo do lado de fora parecia um contraste doloroso com a solidão que preenchia a casa de Marcelo. Ele e sua cadela permaneceram no sofá, assistindo à televisão, enquanto todo mundo continuava a se divertir, sem perceber a tristeza que se escondia atrás das portas fechadas.

Finalmente, Marcelo fechou os olhos e deixou as lágrimas caírem sobre o pelo macio de sua amiga. Ela, percebendo a dor de seu amado dono, se aconchegou mais perto, como se pudesse aquecer seu coração ferido.

A noite caiu, e o brilho das luzes do carnaval ainda iluminava a cidade, mas para Marcelo, era como se tudo estivesse apagado. Ele se sentia abandonado por todos, exceto por aquela pequena cadela que nunca o deixara. 

No fundo, Marcelo sabia que muitas pessoas experimentavam a mesma solidão. Muitos idosos, muitos corações, deixados de lado, esquecidos. Mas, através do amor de Aurora, ele encontrava um fio de esperança. A conexão que tinham era real e verdadeira, uma luz em meio à escuridão.

Assim, embora a tristeza envolvesse seus corações, Marcelo e Aurora estavam juntos. Eles eram dois amantes da vida, ainda crentes em um futuro melhor, onde o amor poderia aquecer até os dias mais frios. E, enquanto a cidade celebrava, dentro daquela casa, um homem e sua cachorrinha encontravam consolo um no outro, provando que, mesmo na dor do abandono, o amor verdadeiro nunca morre.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

domingo, 2 de março de 2025

Um Café Atemporal

Em uma tarde chuvosa e cinzenta, Daniel, um jovem designer de tecnologia, decidiu se refugiar em um pequeno café que havia descoberto em uma das ruas menos movimentadas da cidade. O lugar tinha um ar vintage, com móveis de madeira escura e luzes de pendentes que criavam um clima aconchegante. Enquanto esperava seu café, ele se perdeu em pensamentos sobre o futuro e as inovações que ainda viriam.

De repente, a porta do café se abriu com um rangido, e três homens entraram, cada um vestido de maneira peculiar. Um deles usava um terno antiquado, com um colete e um chapéu-coco, enquanto o outro vestia uma túnica de lã e um cinto de couro. O terceiro estava com uma armadura brilhante, sua espada ao lado, refletindo a luz do café. Daniel ficou intrigado e, quando os homens se aproximaram da mesa onde ele estava sentado, decidiu puxar conversa.

— Olá! — disse Daniel, sorrindo. — Parece que vocês vêm de... épocas diferentes.

— De fato! — exclamou o homem do terno, ajustando seu chapéu. — Sou Arthur, um gentleman do início do século XX. E quem são vocês?

— Eu sou Ricardo, um cavaleiro da Idade Média. — disse o homem de armadura, com um tom sério. — E este é meu amigo, Federico, um homem do século XXI.

— Prazer em conhecê-los! — Daniel disse, rindo. — Eu sou Daniel, do século XXI. É curioso ver todos vocês juntos aqui. O que traz vocês a este café?

Arthur, olhando ao redor, respondeu: — Estou fascinado com este lugar. A tecnologia moderna é realmente impressionante, mas sinto falta da elegância dos meus tempos. A vida era sobre etiqueta, boas maneiras e conversas à mesa.

— Conversas à mesa? — Ricardo riu. — Na minha época, conversas eram sobre batalhas, honra e coragem! O que vocês chamam de "etiqueta" parece um luxo. Eu valorizo a bravura e o espírito de luta!

Daniel, curioso, perguntou: — E o que você acha das inovações que temos hoje, Ricardo? A medicina, a ciência, a tecnologia?

— Ah, isso é algo que admiro! — Ricardo respondeu, com um brilho nos olhos. — Ouvi falar de homens que podem voar como pássaros! Isso é digno de um conto de fadas.

— Não é só isso! — Daniel falou, animado. — Temos carros que andam sozinhos, computadores que conectam pessoas do mundo todo, e até mesmo viagens ao espaço!

Arthur franziu a testa, intrigado. — Viajar pelo espaço? Isso parece algo de um romance de ficção científica. Na minha época, a maior aventura era atravessar um oceano em um navio.

— E que navios! — Ricardo interveio. — Eu sonhei em ser um navegador, desbravando novos mundos. Mas agora, com essa tecnologia, você não precisa mais da coragem de um marinheiro.

— A coragem é essencial, meu amigo! — Arthur disse, com um ar de seriedade. — Na minha época, os homens eram avaliados por sua bravura e suas conquistas. A aventura estava em cada esquina, em cada desafio enfrentado.

— Mas a vida não é só sobre bravura! — Daniel argumentou. — Hoje, valorizamos a criatividade e a inovação. A arte e a tecnologia andam lado a lado. Pense em como a música, a literatura e as artes visuais evoluíram!

— Música? — Ricardo perguntou, curioso. — O que é isso?

— Ah, onde você estava? — Daniel riu. — A música é uma forma de expressão que evoluiu imensamente. Temos todos os estilos: do rock ao hip-hop, da música clássica à eletrônica. É uma linguagem universal.

— E o que a música traz para vocês? — Arthur perguntou, interessado.

— Emoção, conexão! — Daniel respondeu, animado. — A música é capaz de unir as pessoas, independentemente do tempo ou do lugar. É uma forma de contar histórias.

— Histórias! — Ricardo exclamou. — Eu também aprecio as histórias. Na minha época, contávamos histórias ao redor da fogueira, sobre dragões e cavaleiros. Elas nos ensinavam sobre coragem e lealdade.

— Sim, mas as histórias modernas têm uma profundidade diferente. — Daniel argumentou. — Elas falam sobre questões sociais, identidades e experiências humanas complexas. A literatura de hoje reflete a diversidade do mundo.

— E o que você considera diversidade? — Arthur perguntou, intrigado.

— Hoje, entendemos que cada pessoa tem uma história única, independente de sua origem, cor, ou gênero. Celebramos as diferenças e lutamos pela igualdade. — Daniel explicou, sentindo-se apaixonado pelo assunto.

Arthur olhou pensativo. — Na minha época, a sociedade era muito rígida. As classes sociais definiam o lugar de cada um. Eu sinto que, embora tivéssemos nossas tradições, havia uma beleza em seguir um caminho bem definido.

— Mas e a liberdade? — Ricardo interveio, com um olhar intenso. — Não seria melhor viver em um mundo onde você pode escolher seu destino, em vez de ser moldado por regras?

— Liberdade é um conceito complicado. — Arthur respondeu, balançando a cabeça. — A liberdade traz responsabilidades. Na busca por liberdade, muitos esquecem a importância da tradição e da comunidade.

— E a comunidade é construída sobre o respeito! — Ricardo disse, com fervor. — Um verdadeiro cavaleiro protege os mais fracos e defende a justiça. Isso é o que importa.

— Justiça! — Daniel exclamou. — Hoje, lutamos por justiça social. As vozes que antes eram silenciadas agora ganham destaque. É um tempo de mudança!

Arthur olhou para Daniel com um sorriso. — Você realmente acredita que essa mudança é para melhor?

— Com certeza! — Daniel respondeu, animado. — Acredito que estamos mais próximos de um mundo onde todos têm a chance de brilhar.

— Você pode estar certo, mas eu sinto falta da simplicidade dos meus tempos. — Arthur disse, pensativo. — As coisas eram mais diretas. Havia um certo conforto na previsibilidade.

— E eu sinto falta da bravura e da honra! — Ricardo acrescentou. — O mundo moderno, com suas conveniências, parece ter perdido um pouco da essência do que é ser humano.

— Mas cada época traz suas próprias maravilhas! — Daniel insistiu. — Eu não trocaria a tecnologia por nada. Ela nos conecta, nos ensina e nos transforma.

Enquanto os três homens se envolviam em uma conversa animada, o café ao redor deles continuava a funcionar, com o cheiro do café fresco e os sons de xícaras tilintando. Cada um, à sua maneira, valorizava o que sua época tinha a oferecer, e, naquele momento, as diferenças se tornaram um terreno fértil para o diálogo.

— Que tal celebrarmos nossas épocas? — Daniel sugeriu, com um sorriso. — Cada um compartilha algo especial de seu tempo.

— Boa ideia! — Arthur concordou. — Eu posso contar sobre as festas elegantes que organizávamos, com danças e músicas ao vivo.

— E eu posso descrever as grandes batalhas que definiram reinos! — Ricardo disse, com entusiasmo.

— E eu posso falar sobre a revolução digital! — Daniel completou. — Vamos fazer disso uma festa!

E assim, sob a luz suave do café, os três homens começaram a compartilhar histórias, risadas e sonhos. Cada um, com sua visão única, encontrou um espaço comum onde o passado, o presente e o futuro se entrelaçavam, criando um momento mágico que transcendia o tempo. E, enquanto a chuva continuava a cair lá fora, eles perceberam que, apesar das diferenças, as experiências humanas eram universais e atemporais.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul,.
Imagem criada por Feldman com AI Microsoft Bing 

sábado, 1 de março de 2025

Contos em versos diversos: A Intolerância e a Flor


Em um vale sereno, flores cresciam,  
cores vibrantes qual um jardim em esplendor,  
mas entre elas, sombras se escondiam,  
e a intolerância se tornava um clamor.  

Duas flores, irmãs de pétalas finas,  
cada uma com um brilho diferente,  
uma era roxa, a outra, amarela, divinas,  
mas o ciúme fez o amor ausente.  

“Por que você brilha tanto, tão bela?”  
Disse a roxa com um olhar sombrio.  
“Eu sou a mais forte, a mais singela,  
e você, apenas um sonho vazio.”  

A flor amarela, triste, respondeu,  
“Não sou ameaça, sou só luz a brilhar,  
se você me ama, sejamos um apogeu,  
juntas podemos o mundo encantar.”  

Mas a roxa, enfurecida, não a ouviu,  
e as flores do vale começaram a se afastar,  
a intolerância fez seu reino e logo surgiu  
um muro de espinhos que fez as flores separar.  

As abelhas, antes felizes, agora em lamento,  
deixaram de dançar entre as flores suaves,  
e o vento que trazia um doce sentimento,  
passou a soprar apenas em dores nos entraves.  

As raízes, aflitas, começaram a secar,  
e as cores do vale tornaram-se cinzas,  
a beleza se foi, não havia mais par,  
e a tristeza ocupou as suas brisas.  

Certa manhã, um viajante chegou,  
viu o vale triste e as flores a chorar:  
“Por que essa dor? O que se passou?”  
Ele perguntou sem saber o que olhar.  

As flores unidas por um grito sutil,  
contaram a história da intolerância e dor,  
o viajante, sábio, disse, com um olhar gentil,  
“É tempo de amor, não de rancor.”  

“Cada um tem seu brilho, sua diferença,  
e juntos, a beleza se torna mais forte,  
deixe que o amor cure a desavença,  
e o vale florescerá, com nova sorte.”  

As flores, então, compreenderam a lição,  
e decidiram finalmente se abraçar,  
a roxa, com amor, pediu perdão,  
e a amarela sorriu, pronta a recomeçar.  

O sol brilhou alto, e a chuva desabou,  
as cores renasceram, a beleza voltava,  
a intolerância, enfim, se dissipou,  
e o vale, em harmonia, a vida encantava.  

Moral
A história nos ensina que em meio à dor  
a intolerância fere e nos faz esquecer  
que cada um é único, e no amor  
juntos podemos, sempre, renascer.

(criação da imagem com Microsoft Bing)

O Ajudante Robô na Horta

Certa manhã, Dona Elda decidiu que era hora de modernizar a horta. Após ver um comercial sobre um robô ajudante, ela teve uma ideia. — Lelé,...