sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Os ratinhos da sala 006

Numa Universidade, a sala de aula 006 tinha uma fama peculiar. Não era pela dificuldade das matérias, nem pelos professores excêntricos. Era pelo ar-condicionado, que, ao invés de refrescar, se tornou o centro das atenções. 

No alto, junto ao teto, morava um casal de ratos, que decidiu fazer do ventilador seu lar.

Era uma manhã ensolarada, e a turma de Introdução à Teoria do Caos se preparava para mais uma aula com a Professora Rivalda, uma mulher de cabelo desgrenhado e uma paixão inabalável por teorias bizarras. Assim que os alunos se acomodaram, notaram algo incomum: os rabos dos ratos balançavam suavemente para frente e para trás, como se estivessem dançando ao som de uma música invisível.

— Olhem! — exclamou Ana, a aluna mais observadora da turma. — Tem ratos no ar-condicionado!

A sala toda virou os olhos para o teto. Os rabos dos ratos pareciam ter vida própria, e a atenção dos alunos se desviou completamente da palestra sobre o caos. A professora, sem perceber, continuou sua explicação sobre como o caos pode ser encontrado até nas coisas mais cotidianas.

— E como a teoria do caos nos ensina que pequenas mudanças podem ter grandes consequências… — ela disse, mas a turma só conseguia pensar nos ratos.

— Olha como eles se movem! — sussurrou João, o engraçadinho da turma. — Parece que estão fazendo uma coreografia!

Os alunos começaram a imitar os movimentos dos rabos com suas próprias mãos, enquanto a professora, sem entender o que estava acontecendo, continuava a falar sobre o efeito borboleta. 

— Se uma borboleta bate suas asas na China… — começou, mas foi interrompida por um grito de Maria, que estava na janela.

— Eles estão se aproximando!

Na verdade, os ratos estavam apenas se espreguiçando, mas a turma entrou em pânico. Alguns alunos começaram a fazer piadas, enquanto outros tiravam fotos dos rabos balançantes. A sala virou um verdadeiro pandemônio.

— E se eles caírem? — perguntou Lúcia, com uma expressão de preocupação. — E se forem gigantescos?

— São apenas ratos comuns! — respondeu João, rindo. — Mas se eles caírem, pelo menos teremos um espetáculo ao vivo!

A professora finalmente percebeu a distração da turma e olhou para o teto. Com um olhar confuso, ela disse:

— O que vocês estão olhando? Isso não faz parte da aula!

Mas, ao olhar para os rabos balançando, ela também não pôde deixar de rir. O ar-condicionado tinha se tornado um cenário mais interessante do que sua aula sobre caos e desordem.

— Muito bem, vamos aproveitar a situação! — disse ela, com um brilho nos olhos. — Que tal uma discussão sobre o que o comportamento dos ratos pode nos ensinar sobre a ordem e o caos?

Os alunos começaram a debater animadamente, enquanto os ratos, sem saber que eram estrelas, continuavam sua dança acrobática. Um deles, que parecia mais ousado, desceu um pouco mais perto da borda do ar-condicionado, como se estivesse pronto para um salto.

— E se ele pular? — perguntou Ana, cheia de expectativa.

— Vai ser a primeira apresentação de ratos da história da universidade! — brincou João, fazendo todos rirem.

Finalmente, o ousado rato decidiu descer, mas, ao chegar na borda, hesitou. O silêncio na sala era palpável, todos segurando a respiração. Com um movimento súbito, ele pulou, mas, em vez de cair no chão, foi direto para o colo de um estudante que estava distraído mexendo no celular.

O grito do estudante ecoou pela sala, fazendo a professora quase perder o equilíbrio. O rato, assustado, correu de volta para o ar-condicionado, enquanto a turma explodia em risadas.

— Isso é caos! — gritou a professora, agora realmente empolgada. — Esse é o verdadeiro efeito borboleta!

A aula, que deveria ser sobre teoria, se transformou em um festival de risadas e histórias absurdas sobre ratos e suas aventuras. No final, todos concordaram que a sala 006 tinha se tornado um lugar mágico, onde até os ratos tinham o poder de transformar o tédio em diversão.

E assim, a fama dos ratos se espalhou pela universidade, fazendo com que todo semestre novos alunos se inscrevessem apenas para ver o espetáculo dos rabos balançantes. E quem diria que um ar-condicionado poderia ser o ponto de partida para tantas risadas e aprendizados sobre a vida?

E assim, entre risos e rabos balançantes, a aula sobre o caos se tornou um clássico da Universidade, eternizando os ratinhos da sala 006 na memória de todos.

Fontes 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Ajudante Robô na Horta

Certa manhã, Dona Elda decidiu que era hora de modernizar a horta. Após ver um comercial sobre um robô ajudante, ela teve uma ideia. — Lelé,...